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QUESTÕES ÉTICAS NAS PESQUISAS SOBRE[CRIANÇA] E COM[CRIANÇA]
Roseli Nazario

Última alteração: 2014-07-11

Resumo


A proposta apresentada é parte de uma pesquisa de doutorado, concluída em maio de 2014, que escolheu a etnografia como o caminho metodológico mais indicado para o encontro com crianças de 0 a 6 anos, temporariamente afastadas do convívio familiar e institucionalmente acolhidas. Assim, esta comunicação incide em refletir acerca de questões ético-metodológicas da pesquisa sobre[crianças] e com[crianças], levando em conta que a trajetória histórica dos estudos da infância tem sido marcada não por uma ausência de interesse pelas crianças, mas pelo seu silêncio, embora nos últimos tempos seja possível observar o crescente volume de produções teóricas interessadas em escutar as experiências e os pontos de vista das crianças. Este fato indica a emergência de um novo paradigma para os estudos da infância, o que reflete, em parte, em um afastamento da visão das crianças como recipientes passivos da socialização adulta (O’KANE, 2005) e faz emergir o reconhecimento delas como atores sociais de direito próprio e participantes ativas na construção e determinação das suas experiências e das sociedades onde vivem. Concentra-se, nos primeiros anos deste século (XXI), uma crescente produção de estudos nacionais e internacionais que compartilham a preocupação em torno de fazer pesquisa com crianças, muito embora não se possa deixar de registrar que uma das primeiras coletâneas brasileira voltada inteiramente às pesquisas sobre e algumas com crianças consiste no “Cadernos de Pesquisa” (No 31), publicado pela Fundação Carlos Chagas, em dezembro de 1979. Esta publicação reúne um conjunto de artigos e autores de diferentes campos do conhecimento (antropologia; sociologia; psicologia; educação; pediatria, direito, arquitetura; jornalismo) e atende aos indicativos reforçados incessantemente pelas produções acadêmicas mais atuais sobre a importância de estudos multi e interdisciplinares. Também é objeto desta comunicação discutir o papel do pesquisador e da assimetria inerente ao processo de pesquisa, tornando-se ainda mais presente quando se trata de investigação com crianças, visto que o saber científico (validado por instituições, por academias, por escolas, por publicações) concede ao pesquisador um tipo de autoridade que lhe é particular. Diante disso, convoca-se a ética por parte dos adultos-pesquisadores, no sentido de amplificação das vozes e auscultação às crianças bem como a superação da tradição científica que se consolidou, especialmente no século XIX, e que remeteu a criança à condição de objeto de estudo, predominantemente a partir do caráter modelador e controlador da puericultura e psicologia, consolidando padrões de ações pautados em uma homogeneização da infância.

 


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